Desse lado do ringue 4

Foto | Christophe Jacrot
Foto | Christophe Jacrot

 

 

Na plataforma do metrô, próximo de onde o trem para, havia uma espécie de curral feito de canos resistentes. A ideia é facilitar o desembarque de passageiros e organizar o embarque de novos. Quando começamos a entrar no vagão, um sujeito aborda pelo lado do desembarque e avança para dentro, passando na frente de todos os que nos conformamos com as regras. Lá dentro me dou conta: é Deus, se sentindo poderoso a ponto de não se contentar com os limites toscos e animalescos dos humanos. Certo ele, que é Deus e lê Shakespeare de pé. Nas próximas três mudanças, ele está sempre no mesmo carro de metrô que eu. A certa altura, me distraio com duas bundas femininas prestes a desembarcar e quando vou checar, Deus desceu do trem e nem vi. Confiro os nomes das estações para saber onde ele desceu e vejo que a próxima é Patriarca. Penso que ele então só pode ter descido na estação errada. Tudo bem, o cara é crescido, ele se ajeita, por que Diabos estou preocupado? Deus sabe o que faz. Mas da próxima vez, se ele não tomar cuidado quando estiver entrando pela saída, Shakespeare ou não Shakespeare na mão, vou passar uma banda nele.