pascoal para professor de filosofia do mês

foto | philippe halsman
foto | philippe halsman

 

 

“a morte é um processo retilíneo”, pascoal leu nas primeiras páginas de um escritor francês. tirou os olhos do livro (la petite marchande de prose) e discordou: a morte, para começo de conversa, não é processo. ele riu, a polêmica não seria respondida. ou talvez tenha sorrido por discordância. sabia falar de assuntos sérios sem perder a compostura ou entortar a gravata (que ele não usava). pascoal, o elegante. ao contrário desses filósofos que dizem que a gente começa a morrer no dia em que nasce, ele continuou o raciocínio, eu defendo e acredito que a morte vem toda de uma vez e num momento combinado: primeiro para o coração, em seguida a consciência se esvai (e que terror deve ser para a consciência a percepção de que o bombeamento de vida cessou, ele acrescentou, como nota de rodapé e com uma sobrancelha erguida). isso é a morte, pum, de uma vez, arrematou, com uma pancada na mesa que assustou quem estava perto.