vozes múltiplas

multidão

 

 

o artista tem sempre vários duplos. o primeiro deles é o que precisa enfrentar o cotidiano (o outro é o artista). outro eu é o que finge ser tantos outros em narrativas, no caso dos escritores e dos atores (o outro é o artista). há ainda o que precisa desempenhar o papel social de amigo, marido, pai, testemunha, padrinho, profissional, público, palestrante, semiatleta, consumidor, otário, assinante, usuário, internauta, ridículo (o outro, o outro é o artista). às vezes se supõe, diante dessa multiplicidade, que o artista só pode ser um sujeito feliz, sem se levar em conta que essa condição é absolutamente insustentável, porque além de tudo demanda dele a eficiência de sobrepujar os concorrentes e fazer mais discos, publicar mais livros, compor mais e ser executado por orquestras, atuar melhor e conseguir os papéis mais cobiçados. daí, o nível de alcoolismo. é preciso anestesiar os outros, de vez em quando. daí, os suicídios, é gente demais azucrinando a pobre mente.