funciona assim

imagem | guillaume gilbert
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ele estava com a vida emocional em frangalhos, para variar. não tinha conspiração de harmonia no universo que desse jeito. mas existe outro modo de viver?, indagava, um sorriso tristonho no canto dos lábios e duas grossas lágrimas a escorrer pelos cantos externos dos olhos — um jeito muito específico de chorar, como eu havia notado, sendo amigo dele e testemunha próxima de sua vida desequilibrada. se colocassem um sismógrafo para medir o coração, o aparelho teria ficado louco, registrando oscilações impossíveis. eu dava conselhos não aproveitados e água gelada que pelo menos lhe fornecia suprimento para o choro. acontece que certas vidas não se compatibilizam — a desse meu amigo era o caso. atravessou-a de distúrbios em distúrbios até que um dia… bem, gostaria de dizer que um dia ele me surpreendeu e mudou o leme das confusões para navegar em águas tranquilas, mas estaria apenas a contar uma mentira narrativa para o bem da história e a esperança dos leitores. o fato é que morreu tão atarantado quanto viveu e embora lamente que tenha morrido, confesso que sinto certa inveja do modo como viveu. existe outro modo?