o sem sentido da vida está nas roupas fora de lugar, espalhadas pelo quarto, na louça que se acumula na pia, no resto de cerveja, morna e choca, que ficou na garrafa sem ser bebida, no livro aberto e virado ao contrário sobre o braço do sofá, à espera de ser lido. a vida insiste nesses hiatos, nesses acintes: você não vai muito longe, meu chapa, ela parece dizer. você ali, fingindo que o absurdo não pisca o olho para você, todo metido a sedutor.
eis a arte de esculpir o tempo, que devora tudo. até esse absurdo que não faz sentido. sorria, meu caro, você está sendo engolido. igual a todo mundo.
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o maior problema, me parece, é que também devora nacos enormes da memória, ou seja, além de engolir o futuro, o desgraçado ainda tem o acinte de me comprometer o passado.
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rsrsrs… que ótimo, paulo.
você tem um aforismo que é um dos meus prediletos:
“vida é sucessão de momentos perdidos e acúmulo (e perda) de memória”.
faz sentido, né? 🙂
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