eu estava com ressaca de sofrimento. no dia anterior havia sofrido muito —- no espírito, não no corpo —- e agora não sofria mais (havia gasto tudo na véspera, como um fósforo que se acende e em seguida se apaga), no entanto algo ainda se podia perceber da intensidade, isso a que chamei ressaca de sofrimento, esse ar que escapa lentamente de uma válvula. a lembrança dos motivos pelos quais se sofreu é o bastante para te jogar num novo ciclo, se você não toma cuidado. o sofrimento tem enorme capacidade de se renovar, de modo muito rápido e ágil. basta um descuido.
palavras sabidas. como toda ressaca, sofrimento deixa olheiras, hálito estranho e uma vontade esquisita do tipo “quem sabe mais tarde outra vez”.
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e como toda promessa de não vou beber mais a cada ressaca, o sujeito sempre volta para outro copo mais tarde. concordo, mariel.
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