pediram ao poeta que apresentasse currículo, se quisesse concorrer à vaga. era poeta na poesia, nos livros e saraus, ali era um ser humano como outro qualquer e a ele se aplicavam as mesmas regras. o poeta sentou-se à mesa, tentou uma versão manuscrita. depois tentou outra no computador, chafurdando em velhos documentos atrás de informações que pudessem ser relevantes e consideráveis. na sequência de uma noite passada em claro, fez a opção pelo currículo poético, mas não há poesia em colocar o próprio nome, endereço e telefone no papel. o único currículo poético que conhecia era um bem simples, do urbanista lucio costa, que colocou nome, endereço e telefone, escola onde teve formação superior e a linha fatídica de experiência anterior: “responsável pelo projeto urbanístico de brasília”. um sujeito desses ainda pode se dar ao luxo da concisão, pensou o poeta, com as três laudas e um possível futuro burocrático no serviço público nacional com capacidade de lhe matar a poesia. o fundamental teria que ser posto na lista de espera.
essas burocracias que secam a alma fértil de artistas desiludidos com a vida…
em processo de secamento.
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ainda em processo? já sequei.
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pode não, minha gente. parem com isso.
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pois é, pois é, pois é.
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