invenção do passado

 

 

ele juntava cacarecos e velharias com afinco de um jovem pesquisador arqueológico, embora tivesse mais de sessenta anos e uma longa história pessoal de reveses. o passado lhe parecia importante e era com ele que ganhava a vida, barganhando com peças, que comprava por preço bem menor do que a etiqueta anunciava depois para turistas ávidos e estúpidos.

o passado é uma balela que vende bem. embora resolva os problemas do dia-a-dia — as contas de luz, o aluguel, comida — não dá conta de quase nada em relação aos sentimentos humanos. o passado é totalmente indiferente, acontece que os turistas adoram.