sorria, meu bem

foto | sarah ann loreth

 

 

desaprender a sorrir é o que se ganha com o passar dos anos, o lento aprendizado de como deixar a boca imóvel, a não ser quando te apresentam alguma mulher linda e você se lembra que precisa exercitar o melhor ângulo e então estica as laterais do lábio, não muito, o suficiente para ela perceber que você se interessou.

o resto do tempo é gasto em contenção de sorrisos e olhar demorado para as gotas de chuva que escorrem pela janela, um misto de insatisfação geral com o rumo das coisas e certo amargor que não vem só da sucessão interminável de xícaras de café. o mundo material tão perto e cada vez mais distante, o aumento da sensação de que se passou pela vida como fantasma, envolvido demais em situações e eventos que não deixaram tempo para fazer qualquer diferença.

a falta de recursos é a condição básica, disso você sabe e escuta todo mundo em volta reclamando, com isso vai lidar. o resto do tempo é gasto em desaprender a sorrir.